Números desmentem Bolsonaro e mostram que, sim, existe fome no Brasil
A declaração do presidente Jair
Bolsonaro sobre ser “mentira” que existe fome no Brasil, dita para um grupo de
jornalistas estrangeiros na última sexta-feira, 19, é rebatida por dados
públicos do próprio governo federal. No Rio Grande do Norte, por exemplo, de
acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), quase 11,9% dos potiguares estão em pobreza extrema e 13% dos
domicílios apresentam insegurança alimentar moderada ou grave.
Os dados
sobre a insegurança alimentar tratam da possibilidade de acesso a uma
alimentação básica composta por café da manhã, almoço e jantar. Neste caso,
números do IBGE, segundo o último levantamento sobre o assunto, mostram que uma
parte dos potiguares não tem capacidade de arcar com uma única refeição diária.
A pesquisa
aponta que 67,5% dos domicílios potiguares estão em condição de segurança
alimentar, onde os moradores tiveram acesso aos alimentos em quantidade e
qualidade adequadas e sequer se sentiam na iminência de sofrer qualquer
restrição no futuro próximo.
Os domicílios com insegurança
alimentar leve são aqueles nos quais foi detectada alguma preocupação com a
quantidade e qualidade dos alimentos disponíveis, o que representou 19,4% dos
lares potiguar
O estudo foi publicado em 2013,
mas ainda é a base estatística sobre o assunto. As parcelas da população mais
afetada pela insegurança alimentar estão entre as faixas etárias de 5 a 17, que
representam 16% do total.
Além disso, a falta de
alimentos também afeta quem está trabalhando. A base estatística mostra que 9%
dos potiguares que recebem até 1 salário mínimo apontaram não ter condições de
arcar com as refeições diárias.
Na visão do presidente Jair
Bolsonaro, há um exagero nos dados relacionados sobre a fome ser um problema
crônico no Brasil. O presidente avalia que a fome virou um “discurso
populista”. “Não se vê gente, mesmo pobre, pelas ruas, com físico esquelético”,
disse.
Ainda de acordo com dados do
IBGE, no Rio Grande do Norte, 39% da população estava abaixo da linha da
pobreza, o que significa que 1.367.524 de pessoas possuíam renda per capita de
até US$ 5,5 por dia, equivalente a R$ 406 mensais. Os dados são da pesquisa
Síntese de Indicadores Sociais de 2018, que avaliou os dados sociais de 2017.
No que concerne à pobreza
extrema, para pessoas que viviam com renda diária per capita de até US$ 1,9,
por volta de R$ 140 por mês, o Rio Grande do Norte registra um total de 11,7%
neste segmento, o que representou um total de 410.257 pessoas. Em Natal, a
situação é ainda mais perceptível, 9,1% da população está em situação de
pobreza extrema, o que representa 80.434 pessoas.
Para o cientista social João
Bosco Araújo, professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN),
é uma irresponsabilidade para o gestor público, em qualquer esfera de governo,
negar informações sobre os aspectos socioeconômicos do Brasil. “São dados
estatísticos e infelizmente vidas humanas que esses dados expressam em sua
crueza. Não esquecer que a maioria dessas vidas humanas são crianças que terão
seu desenvolvimento cognitivo e humanos para sempre prejudicados”, explica.
Ele diz ser inaceitável que
o presidente da República desconheça a realidade brasileira e que seja
insensível à dor e sofrimento de diversas famílias brasileiras. Ele culpa a
“cegueira ideológica” do presidente pelas declarações. “O fundamentalismo, seja
ideológico, religioso e mesmo científico, é uma desgraça para a sociedade, o
desenvolvimento humano e a democracia”, encerra.
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